A força dos precedentes no julgamento de Shylock em "O mercador de Veneza" de Shakespeare

Autores

  • Gustavo Santana Nogueira Universidade de Barra Mansa - UBM

DOI:

https://doi.org/10.21119/anamps.22.411-432

Palavras-chave:

Shakespeare, "O mercador de Veneza", precedentes, stare decisis, common law

Resumo

O trabalho se dispõe a apresentar a força dos precedentes judiciais através do exame da obra O mercador de Veneza, de Shakespeare, uma vez que a teoria dos precedentes vinculantes, originariamente conhecida como stare decisis, tem sua origem no direito britânico. Pretende-se abordar, ainda que brevemente, a história dos precedentes no seu nascedouro, traçando um paralelo entre a cultura jurídica britânica e a peça acima referida, numa perspectiva histórica. Observar-se-á que, na época em que a peça foi escrita pelo dramaturgo de Stratford-upon-Avon, já havia uma cultura judicial em torno dos precedentes, como o comprova a análise de decisões judiciais contemporâneas ao período em que a peça teria sido provavelmente escrita. O foco específico é o trecho do famoso julgamento da execução da garantia da nota promissória, que autorizava o credor a cortar uma libra de carne do devedor, em que Pórcia, uma das personagens, afirma: “Impossível; não há poder em Veneza que possa alterar um decreto sacramentado. Ficaria registrado como um precedente, e muitas ações legais equivocadas, uma vez dado esse exemplo, choveriam sobre o Estado. Impossível”. Já na Inglaterra medieval verifica-se claramente – e a obra de Shakespeare o evidencia – a importância dos precedentes judiciais, bem como a sua relevância para pautar a conduta dos cidadãos em suas relações fora do Judiciário, inclusive. A fala sugere que uma decisão judicial gera proteção de confiança e expectativa legítima, não só para as partes do caso concreto, mas para a sociedade como um todo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BARROSO, Luís Roberto. Mudança da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em matéria tributária. Segurança jurídica e modulação dos efeitos temporais das decisões judiciais. Disponível em: <http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/parecer_mudanca_da_jurisprudencia_do_stf.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2016.

BRENNER, Saul; SPAETH, Harold J. Stare indecisis – the alteration of precedent on the Supreme Court, 1946-1992. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

BRYSON, Bill. O mundo é um palco; uma biografia. Trad. de José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. 5. ed. Trad. de A. Menezes Cordeiro. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2012.

COKE, Sir Edward. The Reports of Sir Edward Coke, vol. IV. London: Joseph Butterworth and Son, 1826. Disponível em: <http://books.google.co.uk/books?id=PlYDAAAAQAAJ>. Acesso em: 24 ago. 2016.

COWNIE, Fiona et al. English legal system in context. 4. ed. Oxford: Oxford University Press, 2007.

CROSS, Rupert; HARRIS, J. W. Precedent in english law. Oxford: Claredon Press, 2004.

DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. Cambridge: Cambridge University Press, 2008.

FIORENTINO, Ser Giannetto. The Pecorone. Disponível em: <https://archive.org/stream/pecoroneofsergio00giovrich/pecoroneofsergio00giovrich_djvu.txt>. Acesso em: 31 ago. 2016.

FRAGALE FILHO, Roberto da Silva; LYNCH, Christian Edward Cyril. Shylock vs. Antonio (1594): dois olhares. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/escritos/numero02/FCRB_Escritos_2_13_Roberto_da_Silva_Fragale_Filho_e_Christian_Edward_Cyril_Lynch.pdf>.Acesso em: 17 jun. 2016.

GHIRARDI, José Garcez. Somos todos rematados canalhas: notas sobre vingança e justiça em Shakespeare. Anamorphosis ‒ Revista Internacional de Direito e Literatura.v. 1, n. 1, p. 85-98, jan.-jun. 2015.

GODÍNEZ, Rafael Quintero. Stare decisis, legal certainty and the concept of economic activity, regarding the VAT treatment of public bodies. Master Thesis on Master’s Programme in European and International Tax Law 2014/2015. Disponível em: <http://lup.lub.lu.se/luur/download?func=downloadFile&recordOId=5435338&fileOId=7357656>. Acesso em: 30 ago. 2016.

GOMETZ, Gianmarco. La certeza jurídica como previsibilidad. Trad. de Diego Cruz e Diego Vechhi. Madrid: Marcial Pons, 2012.

HALE, Matthew. The history of the common law. Chicago: The University of Chicago Press, 1971.

HELIODORA, Barbara. Falando de Shakespeare. São Paulo: Perspectiva, 2009.

HELIODORA, Barbara. Shakespeare; o que as peças contam. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014.

HOGUE, Arthur R. Origins of the common law. Indianapolis: Liberty Fund, 1985.

HOLMES, Oliver Wendell. The common law. Stilwell: Digireads.com Publishing, 2005.

HULSEBOSCH, Daniel. The ancient constitution and the expanding empire: Sir Edward Coke´s british jurisprudence. Law and history review, v. 21, n. 3, p. 439-482, 2003.https://doi.org/10.2307/3595117

MACEY, Jonathan R. The internal and external costs and benefits of stare decisis. Yale Law School Legal Scholarship Repository, Paper 1744, 1989. Disponível em: <http://digitalcommons.law.yale.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2762&context=fss_papers>. Acesso em: 30 ago. 2016.

NEUBERGER, Lord. The role of the judge: umpire in a contest, seeker of the truth or something in between? Singapore Panel on Judicial Ethics and Dilemmas on the Bench: Opening Remarks, 19 August 2016. Disponível em: <https://www.supremecourt.uk/docs/speech-160819-04.pdf>. Acesso em: 5 set. 2016.

NEVES, José Roberto de Castro. Medida por medida: o direito em Shakespeare. 5. ed. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2016.

NOGUEIRA, Gustavo Santana. Sir Edward Coke e o judicial review inglês: breve história. In: DIDIER JR., Fredie (Coord.). Teoria do processo; panorama doutrinário mundial, segunda série. Salvador: JusPodivm, 2010. p. 307-324.

PLUCKNETT, Theodore. A concise history of the common law. Indianapolis: Liberty Fund, 1956.

POLLOCK, Sir Frederick; MAITLAND, Frederic Willian. The history of english law; before the time of Edward I. Cambrige: Cambdrige University Press, 1898.

RADBRUCH, Gustav. Filosofia do direito. Trad. de Marlene Holzhausen. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

SEGADO, Francisco Fernández. Sir Edward Coke, El Bonham’s Case y la Judicial Review. Observatório da jurisdição constitucional, ano 6, n. 2, p. 167-236, jul./dez. 2013. Disponível em: <https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/observatorio/article/view/913/620>. Acesso em: 24 ago. 2016.

SHAKESPEARE, William. O mercador de Veneza. Trad. de Beatriz Viégas-Faria. Porto Alegre: L&PM, 2010.

SHAKESPEARE, William. The merchant of Venice; A contemporary english version, emended and rectified with notes and commentary by Jonathan Star. Disponível em: <http://uppcolleges.com/wp-content/uploads/2015/04/merchant_of_venice_12.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2016.

SORIANO, Leonor Moral. El precedente judicial. Madrid: Marcial Pons, 2002.

TRINDADE, André Karam. Entre pequenas injustiças e grandes justiças: “O mercador de Veneza” e a representação do juiz. In: STRECK, Lenio Luiz; TRINDADE, André Karam (Org.). Os modelos de juiz; ensaios de direito e literatura. São Paulo: Atlas, 2015.

YOSHINO, Kenji. Mil vezes mais justo; o que as peças de Shakespeare nos ensinam sobre a justiça. Trad. de Fernando Santos. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

Publicado

2016-12-30

Como Citar

NOGUEIRA, G. S. A força dos precedentes no julgamento de Shylock em "O mercador de Veneza" de Shakespeare. ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 2, n. 2, p. 411–432, 2016. DOI: 10.21119/anamps.22.411-432. Disponível em: https://periodicos.rdl.org.br/anamps/article/view/248. Acesso em: 17 jan. 2025.

Edição

Seção

Artigos