Emancipação feminina e direitos humanos em "Marido", de Lídia Jorge
DOI:
https://doi.org/10.21119/anamps.61.219-245Palavras-chave:
gênero, literatura, mulher, patriarcado, violência.Resumo
A condição da mulher na sociedade e a potencialidade da emancipação frente ao sistema patriarcal são debatidas, mediante o método fenomenológico-hermenêutico, a abordagem qualitativa, a técnica exploratória e o procedimento bibliográfico, com alicerce na seguinte problemática: em que medida a dominação masculina se encontra incutida no corpo e na mente do sujeito feminino com o condão de obstar o empoderamento em face da violência efetivada no âmbito do lar? O estudo, justificado pela necessidade e urgência de se compreender a constituição histórica das identidades de gênero como fenômeno social e não natural, objetiva, de início, analisar o patriarcado, ou patriarcalismo, como mecanismo de superioridade do homem e de subjugação, submissão e sujeição da mulher, e, em seguida, refletir, com base no conto Marido, de Lídia Jorge, a incorporação feminina dos preceitos patriarcais como obstáculo à emancipação, ao enfrentamento e à resistência à violência doméstica. Por fim, ao corroborar a hipótese embrionária do artigo, constata-se que os ditames patriarcais dificultam a concretude da potencialidade emancipatória feminina e, logo, dos direitos humanos diante da dominação, inclusive violenta, do homem.
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