“Tenho a letra, mas não tenho o número”: a luta por direitos humanos no Brasil de “Torto arado”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21119/anamps.8.2.e887

Palavras-chave:

decolonialidade, direitos humanos, quilombolas, Torto arado

Resumo

O presente artigo analisa as dificuldades sentidas por comunidades historicamente oprimidas para serem reconhecidas em direitos e em dignidade, especialmente marcadas pela opressão colonial que persiste no Brasil. A partir da análise crítica e jusliterária do romance Torto arado, escrito por Itamar Vieira Junior, que narra a opressão vivida e a luta por condições de vida digna de uma comunidade quilombola na Chapada Diamantina – Bahia, sustenta-se que, para o enfrentamento das formas de opressão, é imprescindível a construção de uma intersubjetividade por parte dos grupos oprimidos que os articule enquanto comunidade e que os municie de letras, números e práxis emancipatórias. Como suporte para articular o imaginário literário às condições concretas dos brasis no Brasil, utilizamos as provocações do pensamento decolonial como substrato para uma proposição crítica dos direitos humanos. O trabalho enlaça, enfim, tanto a partir da literatura quanto do direito, o real e a ficção, o desejo e a facticidade, os antagonismos de um direito que oprime, de uma liberdade escravizada, mas também de uma luta, de vida e morte, por condições de dignidade e por direitos que libertem.

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Biografia do Autor

Gustavo Tenório Cavalcante Silva, Universidade Tiradentes - UNIT

Mestrando do Programa de Pós Graduação em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes (UNIT).

Especialista em Direito do Estado pelo Centro Universitário Guanambi (UniFG).

Graduado em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

 

Gabriela Maia Rebouças, Universidade Tiradentes

Doutora em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Estágio Pós-doutoral com bolsa CAPES no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal).  

Docente do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes – Sergipe (UNIT/SE) e do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas da da Universidade Tiradentes – Alagoas (UNIT/AL).

Pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP/SE).

Líder do grupo de pesquisa "Acesso à justiça, direitos humanos e resolução de conflitos" (DGP/CNPq).

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Publicado

2022-12-30

Como Citar

SILVA, G. T. C.; REBOUÇAS, G. M. “Tenho a letra, mas não tenho o número”: a luta por direitos humanos no Brasil de “Torto arado”. ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 8, n. 2, p. e887, 2022. DOI: 10.21119/anamps.8.2.e887. Disponível em: https://periodicos.rdl.org.br/anamps/article/view/887. Acesso em: 22 abr. 2025.

Edição

Seção

Artigos