O sujeito ilhado: “Robinson Crusoé” e o mundo sem destinatário
Palavras-chave:
criminologia, literatura, alteridade, perversão, violência.Resumo
No personagem ilhado, Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, é possível identificar um sujeito perverso. Trata-se de falar de uma experiência de uma vida sem outrem que forma sua estrutura psíquica. Outrem significa um endereço, uma destinação, Outrem é o outro ao qual me endereço. Trata-se de algo que se inscreve no psiquismo por causa do Outro concreto decorrente de um encontro. É um erro acreditar, como no Direito, que o perverso ofende a outrem de carne e osso. Ele ataca uma abstração, uma peça, alguém que exerce um papel no sentido de uma estrutura. Logo, como implicação social, os outros só podem ser: vítimas, carrascos, objeto, etc. O outro não goza, é mero objeto. Daí se perceber os impasses sociais na atualidade em que ser vítima é condição de legitimidade para determinada ação. O pensamento político criminológico se depara com essa versão perversa da experiência social que se pode nomear como a atual ordem vitimaria, a exemplo de leis penais que adotam o nome de vítimas, até investidas estatais, que utilizam o pretexto vitimário para suas ações.
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Referências
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