Quem conta um conto, aumenta um ponto: a ciência jurídica e a tessitura narrativa em três contos de Kafka

Resumo

Partindo das possíveis intersecções entre direito e literatura, este trabalho tem como objetivo abordar alguns aspectos da construção narrativa do gênero literário conto, ínsitos aí os elementos de espaço-tempo, ação e construção de personagens, no tocante à crítica do Direito (ordenamento jurídico e ciência jurídica). Para tanto, foram escolhidos como objeto da análise pretendida os contos kafkianos O veredicto, Um fratricídio e O novo advogado, tendo como suporte teórico-metodológico a topoanálise (Gaston Bachelard e outros teóricos), pela qual se analisam as representações espaciais do texto literário, seja ele em verso ou em prosa, buscando inferências sociológicas, filosóficas, estruturais para o desvelamento da composição narrativa. Balizando a análise jurídico-literária nas contribuições à teoria narrativa apresentadas por Ricardo Piglia, em suas Teses sobre o conto e Novas teses sobre o conto, serão explicitados os (possíveis) efeitos de sentido produzidos pela construção narrativa de Franz Kafka, que inaugura o estilo kafkiano.  Com efeito, a tessitura narrativa dos contos constrói-se, e é construída, de tal forma que se torna um amálgama com a crítica à ciência jurídica (o direito na literatura/ o direito pela literatura/o direito como literatura).