Odorico Paraguassú e Jair Bolsonaro: padrão discursivo e sujeição dos corpos durante as emergências de saúde

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21119/anamps.10.2.e1072

Palavras-chave:

assujeitamento, corpos, narrativas, pandemia, subjetivação

Resumo

Este texto busca refletir sobre o processo de subjetivação dos corpos no contexto da 'sujeição', utilizando as narrativas dos discursos políticos de dois personagens: um fictício, o Prefeito Odorico Paraguaçu, e outro não-fictício, o ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro. O contexto histórico-social e cultural retrata a epidemia de tifo na ficção O Bem-Amado e a pandemia de COVID-19 na realidade brasileira, sendo analisado as narrativas dos discursos desses personagens à luz da condição social e política do negacionismo, que evidencia um processo de normatização e regulamentação dos corpos. Por meio de uma análise bibliográfica e teórica que incide o Direito na Literatura, identificamos, seguindo Judith Butler, a figura de um ethos narrativo de 'sujeição' dos corpos, envolvendo normatização e regulamentação sobre a condição de ‘si’ e ‘ser’. Concluímos que, dentro de um espaço-temporal demarcado pela verossimilhança narrativa entre as personagens políticas, emerge uma matriz narratológica que atua como um sujeito jurídico. Por meio da repetição das narrativas, esta matriz imprime na consciência humana um padrão de comportamentos e condutas sociais, políticas e culturais a ser seguido, coercitivamente aproximando-os de um modelo ideal de obediência. Observa-se um padrão narrativo estrutural nos personagens autoritários durante o combate às doenças, agindo sob a condição negacionista, onde cultivam a retórica da 'diferenciação' do 'outro', promovendo a rejeição de 'si' e a não aceitação das diferenças que os cercam.

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Biografia do Autor

Mateus Bender, Universidade Federal do Paraná

Doutor em Sociologia e Ciência Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pelotas e Graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande. Pós-Graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Internacional de Curitiba e em Docência para Educação Profissional pelo Instituto Federal de Santa Catarina. Áreas de atuação: Sociologia do Direito, Direito do Trabalho, Sociologia do Trabalho, especificamente através dos temas relacionados ao reconhecimento de direitos, regulamentação e caracterização do trabalho, saúde e meio ambiente do trabalho. E-mail: mateusbenderoficial@gmail.com.

Ronaldo Silva, Universidade Federal do Paraná

Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Integração Contemporânea da América Latina (área Ciência Política e Relações Internacionais) pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Especialista em Relações Internacionais Contemporâneas e graduado em Relações Internacionais e Integração pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e em Ciência Política pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER); E-mail: ronaldosilvars@hotmail.com; Contato (45) 99943-4238

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Publicado

2024-07-05

Como Citar

BENDER, M.; SILVA, R. Odorico Paraguassú e Jair Bolsonaro: padrão discursivo e sujeição dos corpos durante as emergências de saúde. ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 10, n. 2, p. e1072, 2024. DOI: 10.21119/anamps.10.2.e1072. Disponível em: https://periodicos.rdl.org.br/anamps/article/view/1072. Acesso em: 7 out. 2024.

Edição

Seção

Artigos