Na barriga do Beemote: reflexões sobre o direito e o não-direito no contexto de “As Benevolentes”, de Jonathan Littell
DOI:
https://doi.org/10.21119/anamps.51.277-316Palavras-chave:
“As Benevolentes”, Jonathan Littell, nacional-socialismo, Rechtsstaat, Beemote.Resumo
O presente artigo tem por objeto a análise da obra As Benevolentes, de Jonathan Littell, com o objetivo de explorar as experiências vividas pela sua personagem principal, Maximilien Aue, o oficial nazista, membro da SS, jurista, doutor em direito, que assumiu, por diversas vezes, a condição de carrasco em um dos Einsatzgruppen que atuava na retaguarda do front alemão na Guerra contra a União Soviética. Busca-se analisar o relacionamento dessa personagem com um regime político marcado pelo autoritarismo e pela erosão das formas jurídicas que caracterizam um Rechtsstaat. Regime este metaforizado na figura do Beemote, na interpretação que lhe dá Franz Neumann. A estrutura metodológica é guiada pelas estratégias de aproximação entre o direito e a literatura de modo a permitir que, a partir da construção de uma situação hermenêutica comum, os diferentes modos de se relacionar com a verdade que se estabelecem nesses dois campos de conhecimento possibilitem novos acessos interpretativos para refletir sobre a paradoxal relação que existe entre direito e autoritarismo. O desfecho, a partir da experiência trágica de Max Aue, iluminou o destino reservado àqueles que, enquanto povos ou indivíduos, despertaram as Erínias de seu sono benevolente.
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