Na barriga do Beemote: reflexões sobre o direito e o não-direito no contexto de “As Benevolentes”, de Jonathan Littell

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21119/anamps.51.277-316

Palavras-chave:

“As Benevolentes”, Jonathan Littell, nacional-socialismo, Rechtsstaat, Beemote.

Resumo

O presente artigo tem por objeto a análise da obra As Benevolentes, de Jonathan Littell, com o objetivo de explorar as experiências vividas pela sua personagem principal, Maximilien Aue, o oficial nazista, membro da SS, jurista, doutor em direito, que assumiu, por diversas vezes, a condição de carrasco em um dos Einsatzgruppen que atuava na retaguarda do front alemão na Guerra contra a União Soviética. Busca-se analisar o relacionamento dessa personagem com um regime político marcado pelo autoritarismo e pela erosão das formas jurídicas que caracterizam um Rechtsstaat. Regime este metaforizado na figura do Beemote, na interpretação que lhe dá Franz Neumann. A estrutura metodológica é guiada pelas estratégias de aproximação entre o direito e a literatura de modo a permitir que, a partir da construção de uma situação hermenêutica comum, os diferentes modos de se relacionar com a verdade que se estabelecem nesses dois campos de conhecimento possibilitem novos acessos interpretativos para refletir sobre a paradoxal relação que existe entre direito e autoritarismo. O desfecho, a partir da experiência trágica de Max Aue, iluminou o destino reservado àqueles que, enquanto povos ou indivíduos, despertaram as Erínias de seu sono benevolente.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rafael Tomaz de Oliveira, Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP-SP)

Mestre e Doutor em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS-RS). Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP-SP), nos níveis de Mestrado e Doutorado.

Referências

GATES, David. The Monster in the Mirror. The New York Times, 05/03/2009.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Depois de 1945: latência como origem do presente. Tradução de Ana Isabel Soares. São Paulo: Unesp, 2014.

LITTELL, Jonathan. A voz do carrasco. Folha de S. Paulo, caderno Mais!, 19/11/2006.

LITTELL, Jonathan. As Benevolentes. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Objetiva, Kindle Edition, 2012.

KAKUTANI, Michiko. Unrepentant and Telling of Horrors Untellable. The New York Times, 24/02/2009.

KARAM, Henriete. A “Oresteia” e a origem do tribunal do júri. Revista Jurídica, Curitiba, v. 4, n. 45, p. 77-94, 2016. Disponível em: http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/1764/1156. Acesso em: 20 mar. 2019.

KERSHAW, Ian. Hitler. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. E-book Kindle.

MITTICA, M. Paola. O que acontece além do oceano? Direito e literatura na Europa. Anamorphosis – Revista Internacional de Direito e Literatura. v. 1, n. 1, p. 3-36, jan.-jun. 2015. Doi: http://dx.doi.org/10.21119/anamps.11.3-36.

MUSSIL, Robert. O homem sem qualidades. Tradução de Lya Luft e Carlos Abenseth. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018. E-book Kindle.

NANCY, Jean-Luc. Banalidade de Heidegger. Tradução de Fernanda Bernardo e Victor Maia. Rio de Janeiro: Via Verita, 2017.

NEUMANN, Franz. Behemoth: The structure and practice of National Socialism. Chicago: Ivanrdee, 2009. E-book Kindle.

ROUDINESCO, Elisabeth. A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. E-book Kindle.

RÜTHERS, Bernd. Derecho degenerado: Teoría Jurídica y Juristas de Cámara en el Tercer Reich. Tradução de Juan Antonio García Amado. Madrid: Marcial Pons, 2016.

RÜTHERS, Bernd. Die unbegrenzte Auslegung. 8 ed. Tubingen: Mohr Siebeck, 2017.

SCHMITT, Carl. Staat, Bewegung, Volk. Hamburg: Hanseatische Verlagsanstalt, 1933.

SCHMITT, Carl. Dictartorship. Tradução de Michael Hoelzl e Graham Ward. Cambrigde: Polity Press, 2014.

STEINER, Georg. The Death of Tragedy. London: Faber and Faber, 2010a. E-book Kindle.

STEINER, Georg. No Passion Spent. London: Faber and Faber, 2010b. E-book Kindle.

STEINER, Georg. La poesía del pensamiento: del helenismo a Celan. Tradução de María Condor. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2012.

STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2011a.

STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise. 11 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011b.

STOLLEIS, Michael. The Law under The Swastika: Studies on The legal history in Nazi Germany. Chicago: Chicago University Press, 1998.

STOLLEIS, Michael. Recht im Unrecht. 3 ed. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2016.

SUNSTEIN, Cass. Introduction. In: SUNSTEIN, Cass. Can it Happen Here? Authoritarianism in America. New York: Haper Collins, 2018. p. ii-x.

TRINDADE, André Karam; BERNSTS, Luísa Giuliani. O estudo do direito e literatura no Brasil: surgimento, evolução e expansão. Anamorphosis – Revista Internacional de Direito e Literatura, v. 3, n. 1, p. 225-257, jan.-jun. 2017. Doi: http://dx.doi.org/10.21119/anamps.31.225-257.

Publicado

2019-06-11

Como Citar

OLIVEIRA, R. T. de. Na barriga do Beemote: reflexões sobre o direito e o não-direito no contexto de “As Benevolentes”, de Jonathan Littell. ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 277–316, 2019. DOI: 10.21119/anamps.51.277-316. Disponível em: https://periodicos.rdl.org.br/anamps/article/view/590. Acesso em: 2 jul. 2024.

Edição

Seção

Artigos