Quiasmas do poder: arte, direito e política na "Coroação de Dom Pedro II" de Manuel de Araújo Porto-Alegre
DOI:
https://doi.org/10.21119/anamps.72.503-527Palavras-chave:
Arte e Direito, Coroação de Dom Pedro II, Manuel de Araújo Porto-Alegre, Constituição. Governo ImperialResumo
Este artigo analisa, a partir de uma perspectiva jurídica, a pintura da Coroação de Dom Pedro II de Manuel de Araújo Porto-Alegre, como uma imagem bidimensional que reúne quatro diferentes temporalidades: a) o poder centrado no passado da imagem da glória dinástica do seu pai, o Imperador Dom Pedro I; b) o poder centrado no presente da organização hierárquica entre os diferentes grupos políticos representados na pintura; c) o poder fundamentado no futuro retrospectivo da imagem da Constituição e do Missal; e d) o poder centrado na esperança sobre o futuro da Corte e do Governo que, de modo surpreendente, não está direcionado à pessoa do Imperador ou à Constituição, mas a nós mesmos. Com base nas análises da relação entre glória e poder soberano (Agamben), conclui-se que a pintura constrói um inteligente quiasma visual sobre a glória do poder, mas ao mesmo tempo subverte esse quiasma por meio dos olhares dos personagens, que não aclamam o corpo do imperador, tampouco a Constituição ou o povo, mas outras complexas referências de sentido.Downloads
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