“A SANTA JOANA DOS MATADOUROS”: O CAPITALISMO COMO MÁQUINA DE MOER GENTE

Résumé

Os danos do consumo de proteína animal ao meio ambiente e à saúde humana são bem conhecidos. Todavia, há um efeito deletério menos comentado, mas nem por isso menos importante, da indústria da carne: o papel por ela desempenhado nas oscilações cíclicas da economia capitalista. Brecht se debruça sobre essa temática em “A santa Joana dos matadouros”, cujo fio condutor é a história de Pedro Paulo Bocarra. Conhecido como o rei dos frigoríficos em Chicago, Bocarra decide vender sua parte no negócio a seu sócio. Como esse último condiciona a transação à aniquilação da concorrência, Bocarra recorre a estratagemas que colocam em crise todo o sistema produtivo da carne, prejudicando empresários e trabalhadores do setor e, no fim das contas, causando a morte da personagem que dá nome à peça. A obra aborda duas grandes linhas de força do marxismo, quais sejam, a denúncia da inevitabilidade das débâcles econômicas e da religião como instrumento de entorpecimento das classes subalternas. O dramaturgo alemão propicia aos leitores uma oportunidade ímpar de refletir sobre a irresponsabilidade de delegar o destino das pessoas à mão invisível do mercado.