BRANCA DIAS ENTRE FATO E FICÇÃO: A TOLERÂNCIA RELIGIOSA NO BRASIL COLÔNIA SOB O OLHAR DE DIAS GOMES

religious tolerance in colonial Brazil through the eyes of Dias Gomes

Abstract

Já em meados do século XVI, o Brasil é revestido por uma miríade de credos que se imbricam a todo tempo; a dubiedade, a tênue oscilação entre ortodoxia e sincretismo, caracteriza então a multifacetada religiosidade popular. Como não raro o sagrado se imiscuía no profano, o início da ação inquisitorial no Brasil assinala uma grande tensão entre a rígida ortodoxia eclesiástica e a fluida religiosidade local, composta por múltiplos gradientes de catolicidade, dentre os quais figura o criptojudeu – aquele que, embora batizado na fé católica, professava o Judaísmo em segredo. Eis o caminho pelo qual O santo inquérito envereda-se: transpondo o fato histórico à teatralização, Dias Gomes elege a Paraíba setecentista como espaço-testemunha da herética Branca Dias, descendente de criptojudeus denunciada à justiça eclesiástica pela prática de atos contrários à moralidade. Sob essa lente, busca-se compreender em que medida a arena ficcional aproxima-se da perseguição à heresia judaizante enquanto verdade factual. Para tanto, a metodologia utilizada compreende revisão bibliográfica e pesquisa de legislações civis e eclesiásticas. Ao fim deste estudo, nota-se que o autor, embora não preocupado em ater-se à historicidade, bem delineia o sistema inquisitório, no qual o réu reduz-se a mero objeto verificador da verdade real.