O tribunal kafkiano e os seus juristas:quem diz o direito em “O processo”?

Autores/as

  • Eduardo de Carvalho Rêgo Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Palabras clave:

Kafka, direito, tribunal, juristas.

Resumen

Embora o filósofo francês Michel Foucault tenha apresentado ao mundo a microfísica do poder em sua versão final, anos antes ela já podia ser vista nas histórias do escritor tcheco Franz Kafka. Em obras como O processo, Na colônia penal, O veredicto e O castelo, para citar apenas algumas, identifica-se o exercício ininterrupto do poder disseminado na sociedade, a tal ponto de ser possível afirmar que quase tudo advém das relações de poder. Nesse contexto, o próprio Direito – que serve de pano de fundo para várias obras de Kafka – é vazio e se materializa apenas nos arranjos ou favores que autor e réu de um processo conseguem conquistar a seu favor. A constatação de que os códigos jurídicos de O processo contêm nada mais do que figuras pornográficas demonstra a própria insubstancialidade da lei, que, como todas as outras figuras jurídicas, é apenas uma invenção ou idealização daqueles que dão suporte a esta grande farsa, que é o Direito. Com Kafka, chega-se à conclusão de que os grandes e característicos símbolos jurídicos são meras ficções – tal como os quadros pendurados nas paredes do advogado de Josef K., que retratam juízes baixinhos como verdadeiros gigantes – e que os verdadeiros tribunais e juristas se localizam “nos bastidores” da Justiça: em ateliês de pintura, em cortiços humildes, em porões ou quartinhos escondidos nos fundos de repartições públicas, etc.

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Biografía del autor/a

Eduardo de Carvalho Rêgo, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Mestre em Teoria, História e Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC; Especialista em Direito Constitucional pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL; Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Citas

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Publicado

2016-06-29

Número

Sección

GT 1