Literatura como estranhamento do direito: considerações sobre o ato de julgar em Tolstói e Guimarães Rosa

Autores/as

  • Maurício Pedroso Flores Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
  • Albano Marcos Bastos Pepe Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Palabras clave:

estranhamento, “Grande sertão, Veredas”, julgamento, Tolstói.

Resumen

Os estudos críticos dos chamados formalistas russos constituem um importante marco no desenvolvimento da teoria literária. Entre os integrantes desse movimento teórico encontra-se Victor Chklóvski, de quem o presente trabalho toma a noção de estranhamento na arte e a emprega como princípio norteador de uma interpretação que busque chegar a novos significados do ato de julgar. Na concepção do autor, a arte – no caso, a literatura – emerge como possibilidade de afastamento das tradicionais visões automatizantes reproduzidas pela linguagem cotidiana, que são incapazes de captar os objetos conforme suas peculiaridades. Por meio do estranhamento, as obras literárias transportam o leitor da esfera do reconhecimento para o âmbito recriado da visão. A ficção encontra-se assim capaz de decodificar a lógica que conecta os objetos jurídicos ao imaginário social por meio da familiaridade de suas práticas. A natureza do julgamento, instituição inconteste no processo civilizatório, é rediscutida em suas bases através de duas narrativas – Ressurreição, de Tolstói, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Ao se apontar excertos característicos do procedimento aludido por Chklóvski em cada uma delas, é possível notar a manifestação de duas formas distintas de se compreender a posição de julgador. Na obra do autor russo, a exposição do cruel sistema existente culmina num apelo ao transcendente. No romance estruturado nas reminiscências do personagem Riobaldo, a reflexão toma forma através de um julgamento circunstancial que sugere notáveis implicações filosóficas.

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Biografía del autor/a

Maurício Pedroso Flores, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Acadêmico do 10º semestre do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Albano Marcos Bastos Pepe, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

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Publicado

2016-06-29

Número

Sección

GT 1