“O conto da aia”: a (des)pessoalização como dimensão epistêmico-moral fundadora da condição de sujeito de direito da mulher

Autores

  • Oswaldo Pereira de Lima Junior Professor Adjunto II do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Campus de Caicó/RN. http://orcid.org/0000-0002-0019-1391
  • Edna Raquel Hogemann Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO Centro de Ciências Jurídicas e Políticas - CCJP Coordenadora da Escola de Ciências Jurídicas - ECJ Av. Voluntários da Pátria, 107 - Botafogo, Rio de Janeiro http://orcid.org/0000-0003-3276-4526

DOI:

https://doi.org/10.21119/anamps.51.69-93

Palavras-chave:

despessoalização, Margaret Atwood, status moral, dignidade, sexismo.

Resumo

Discute-se a supressão do status moral e jurídico da mulher como uma extensão do processo de despessoalização do ser humano na obra O conto da aia, de Margaret Atwood. A história de Offred desenvolve-se num futuro distópico em que as mulheres são as maiores atingidas por uma nova ordem política. Num Estados Unidos transformado na ditadura Gilead, diante de eventual perda da fecundidade de parte da população feminina, as mulheres são divididas em castas e praticamente perdem o direito sobre si mesmas, mantendo-se como propriedade dos homens. A pessoalização significa mais do que observância de direitos ao ser biológico, é processo dialético no qual individualidade e racionalidade flertam com a ascripção de importância moral. Esse processo, por ser construído nas instâncias da filosofia prática, é prévio às definições de Direito, caracterizando-se como constructo moral. Pessoalizado, o ser humano se torna aceito como o sujeito inafastável do Direito, que tem justamente na pessoa o seu núcleo e o próprio sentido de sua existência. Trabalha-se com a ideia de pessoa como ser complexo, tal como se espelha nas obras de Immanuel Kant (1785), Lucien Sève (1994), Raquel Hogemann (2015) e Oswaldo Pereira de Lima Junior (2017).

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Biografia do Autor

Oswaldo Pereira de Lima Junior, Professor Adjunto II do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Campus de Caicó/RN.

Doutor em Direito pela Universidade Estácio de Sá - UNESA, Mestre em Biodireito, Ética e Cidadania pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL (2009), Pós-graduado em Direito Processual Civil pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL (2005), Bacharel em Direito pela Universidade de Taubaté - UNITAU (1999). Professor Adjunto I do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, ex-professor da Universidade de Taubaté - UNITAU (SP) e da Faculdade Paraíso do Ceará. Possui experiência na área de Direto, com ênfase em Filosofia do Direito, Ética e Direito Privado, atuando principalmente nos seguintes temas: Bioética e Biodireito, Filosofia do Direito, Teoria do Direito e Direito Empresarial. Coordenador do Curso de Direito da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), no Centro de Ensino Superior do Seridó (2017), Coordenador do Projeto de Pesquisa "Entre o biológico e o humano: pessoalização e conflitos parentais diante da gestação e do status moral do nascituro" e do Projeto de Extensão (En)Cine Direito, Coordenador do Grupo de "Pesquisa Direitos Fundamentais e Desenvolvimento Social" da UFRN e Pesquisador do Grupo de Pesquisa "Direitos Humanos e Transformação Social-DHTS" da Universidade Estácio de Sá e do Grupo de Pesquisa "JUstiça, DIreito e TEcnologia - JUDITE" da UEPB.

Edna Raquel Hogemann, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO Centro de Ciências Jurídicas e Políticas - CCJP Coordenadora da Escola de Ciências Jurídicas - ECJ Av. Voluntários da Pátria, 107 - Botafogo, Rio de Janeiro

Pós-Doutora em Direito, pela Universidade Estácio de Sá/RJ, Doutora em Direito pela Universidade Gama Filho - UGF (2006), Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho - UGF (2002), Pós-Graduação Lato Sensu em Bioética, pela Red Bioética UNESCO (2010), Pós-Graduação Lato-Sensu em História do Direito Brasileiro, pela Universidade Estácio de Sá - UNESA (2007), Graduada em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (1977) e Bacharel em Direito pela Universidade do Grande Rio (1999). Professora Adjunta III do Curso de Direito, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UniRio. Professora Permanente do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu, em Direito, da Universidade Estácio de Sá - UNESA/RJ . Além de pesquisadora junto à FAPERJ , em projetos de pesquisa sobre convivência e de mediação familiar com crianças/adolescentes acolhidos institucionalmente e em projetos de iniciação científica e de extensão universitária, em convênio com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro . Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Teoria do Direito, atuando principalmente nos seguintes temas: Direitos humanos, Teoria do Direito - História Social do Direito - Novos Direitos ( Bioética - Biodireito, Direitos da Personalidade, Formas adequadas de solução de conflitos e EAD ) nas áreas de pós-graduação stricto e lato sensu .

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Publicado

2019-06-11

Como Citar

LIMA JUNIOR, O. P. de; HOGEMANN, E. R. “O conto da aia”: a (des)pessoalização como dimensão epistêmico-moral fundadora da condição de sujeito de direito da mulher. ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura, Porto Alegre, v. 5, n. 1, p. 69–93, 2019. DOI: 10.21119/anamps.51.69-93. Disponível em: https://periodicos.rdl.org.br/anamps/article/view/470. Acesso em: 29 set. 2024.

Edição

Seção

Artigos